25 agosto, 2010

CONEXÃO

A meditação e a limpeza espiritual são de extrema importância. Uma pessoa densa, isto é, com muita matéria e pouco espírito, está desconectada. É uma pessoa sem vida interior, sem vida própria. É aquela pessoa que está com o foco sempre nos outros, no que eles vão pensar, no que vão dizer. É a pessoa que precisa agradar para ser aceita. É uma pessoa que precisa da aprovação dos outros para ser quem é. Uma pessoa sem conexão e com grande densidade material jamais encontrará a sua essência, fonte original da sua vida na Terra, veículo que transporta a informação espiritual, a missão e o caminho. Uma pessoa sem espírito é um autômato, um robô, um ser que está sempre a serviço de alguém. É preciso libertar-se, soltar as amarras, deixar de dar tanta importância ao ego, conectar-se e subir. Encontrar a vida plena, aqui mesmo, em plena matéria. Uma pessoa sem conexão com seu próprio espírito é uma pessoa infeliz.



Texto extraído e adaptado de O Livro da Luz de Alexandra Solnado





                                                                                  



16 julho, 2010

Pressentimento

Gustavo Klint  - Árvore da Vida 

      Esperei-te, aqui, várias estações da vida.
Vi nascer e morrer todas as flores.
Vi brotar e esmaecer todas as cores
- dor de alma tantas vezes repetida.

Original e único só o momento
em que, por força de um pressentimento,
retive a sensação do teu calor.

A ele recorro, em cada fim de tarde,
e tento, no amparo desta árvore,
vencer o desamparo, o frio, a dor.

23 junho, 2010

Calou-se José Saramago


  
   Poema à Boca Fechada
  
   Não direi:
   Que o silêncio me sufoca e amordaça.
   Calado estou, calado ficarei,
   Pois que a língua que falo é de outra raça.
  
   Palavras consumidas se acumulam,
   Se represam, cisterna de águas mortas,
   Ácidas mágoas em limos transformadas,
   Vaza de fundo em que há raízes tortas.
  
   Não direi:
   Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
   Palavras que não digam quanto sei
   Neste retiro em que me não conhecem.
  
   Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
   Nem só animais bóiam, mortos, medos,
   Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
   No negro poço de onde sobem dedos.
  
   Só direi,  
   Crispadamente recolhido e mudo,
   Que quem se cala quando me calei
   Não poderá morrer sem dizer tudo.




19 junho, 2010

Porque se desencontram nossos caminhos?



 Ó Amor porque não vens? Porque tarda tua hora? Porque se desencontram nossos caminhos?

De tanto te amar me tornei prolixo, de tanto te esperar me tornei escravo, e de tanto sofrer me tornei poeta. Sento ao horizonte no sol poente, imaginando tua chegada. Porque te deténs no longe, porque te ausentas no tempo, porque escolhestes o futuro para tua morada e o desconhecido para teu descanso. Deixaste teu amado a tua espera, deixaste teu amante sofrer tua ausência. Mas o que liga meu coração ao teu é porque sei, que nesta terra do sol anseias tu a mim, os teus olhos o meu, tuas mãos as minhas, teu abraço meus braços.

Queria ter asas para voar até o lugar onde estás, queria ter força para caminhar léguas, queria ter a coragem para escalar os montes, desvendar os horizontes, e em cada árvore escrever teu nome, em cada pedra desenhar teu rosto, em cada fruto o sabor do teu beijo, em cada sombra o acolher dos teus abraços. Nas estrelas veria teu brilho, no sol o teu calor, na lua a tua formosura e no mar a calma de quando estou recostado em teu colo.


Esses meus olhos que nas estrada andam perdidos, esse meu coração que ao pouco anda recolhido, essas mãos que anda por muito carentes, do suor de quando meus olhos te vêem e aceleram meu coração fazendo destilar as mãos, os efeitos de tua presença. E quando por fim amor eu me cansar de amar, amarei mais ainda, porque o mesmo amor que leva todas as minhas forças e me humilha é o que me faz forte e me exalta.


(Deivyd, de O Romântico Rebelde)


"Quem me dera também, amor, que fosse esta a hora de todas a mais doce em que eu unisse as minhas mãos às tuas!"


Florbela Espanca - Trocando olhares - 29/07/1916








Universos Paralelos




Nós, aqui desse mundinho virtual, que somos muitos, mas nem tanto, somos conhecedores já faz tempo de situações como essas relatadas no filme em anexo. Até quando vamos ficar trocando essas mensagens entre nós mesmos? Em qual momento vamos passar para frente essas histórias, revelando a quem infelizmente não sabe ou não acredita, ou sabe Deus o que pensa?
Dê uma olhada em volta. Olhe pela janela. Aí, onde está agora não há ninguém a quem possa "mostrar" a verdadeira situação?
Você tem funcionários em casa, ainda que ocasionalmente? E nos edifícios, certamente conhece os porteiros, o jardineiro, os seguranças, os manobristas, o pessoal da manutenção. A caixa do supermercado, o entregador, seu jornaleiro, o frentista do posto em que abastece, o mecânico que cuida do seu carro, sua manicure, a recepcionista do consultório e mais uma centena de pessoas que circulam no seu cotidiano, no dia-a-dia. Não é possível que você não troque pelo menos meia dúzia de palavras com essas pessoas. Será que todas elas tem acesso a Internet? Podem comprar jornais ou leitura especializada? Frequentam escolas? Ou será que toda a informação que possuem vem dos programas jornalísticos da TVs abertas entre 18h00 e 20h00? Como é que essa gente toda vai saber a verdade?
É claro que ninguém vai sair por aí fazendo comício. Nem distribuindo panfletos. A não ser que queiram, sei lá ... mas peço que por gentileza não subestimem a minha inteligência que, com relação a capacidade, certamente é muito semelhantes a de vocês. Estou convencida de que sabem exatamente sobre o que estou falando.
Claro que quero continuar sendo informada e informar a todos nós sobre tudo o que acontece, mas de que adianta ficarmos aqui, entre nós mesmos, chovendo no molhado. Parece uma "Missão Impossível"? Parece mesmo. Acho que, inclusive é, de fato. Mas não adianta concertar o telhado depois que começar a temporada de chuva.
Bem, estamos aqui, apenas "conversando", e olha que não tenho tido muito tempo prá isso. Mas para pensar, incrível, sempre tenho tempo.
Pois é pensando no futuro politico e social do meu país que esses pensamentos me ocorrem e me senti á vontade para dividir com vocês.
O futuro a Deus pertence e o tempo d'Ele é perfeito. Mas de uma coisa vocês podem estar certos, do meu jeitinho, à minha maneira vou fazendo a minha parte. E não vou desistir, nem me desesperar. Vou trabalhar.
O oceano é feito de pequenas gotas d'água


Abraços a todos e um excelente final de semana.

07 junho, 2010

O Beijo


“A arte é a contemplação: é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que ela também tem uma alma. É a missão mais sublime do homem, pois é o exercício do pensamento que busca compreender o universo, e fazer com que os outros o compreendam.”






Auguste Rodin

23 maio, 2010

Frida Kahlo


Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón

Marcada por um trágico acidente aos 18 anos e por uma vida inteira de sofrimentos físicos, Frida conseguiu ser, ainda assim, a grande pintora mexicana do século XX. Trágica, apaixonada e genial, ela sintetiza a alma feminina da América Latina.

Nenhuma dor pelo dano
 Todo dano é bendito
Do ano mais maligno
nasce o dia mais bonito
um dia, um mês, um ano 

Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón nasceu a 6 de julho de 1907, às 08:30, em Coyoacán, subúrbio da Cidade do México. Seu mapa astrológico e sua origem – familiar, social e nacional – já sinalizam as contradições e ambigüidades que matizariam sua existência, marcada pela intensidade, pela paixão e pela dor.
Em que pese que a vida desta mulher seja fascinante e complexa, vamos pelo caminho que determinam principalmente os aspectos que marcaram sua trajetória feminina a partir dos problemas de saúde. Como o próprio nome de batismo já profetizava o sofrimento na condição feminina mostra-se à existência de Frida desde a mais tenra idade, golpeando sua vaidade sensual.
Não obstante a etimologia da palavra Frieda (nome teutônico) significar “pacífica”, ela, mais tarde, vai mudar a grafia do seu nome para “Frida”, a que protege. Magdalena (nome aramaico: “cidade das torres”) e Carmen (nome latino: “poema”), por sua vez, evocam arquétipos desafiadores, valentes, ferozes e, porque não dizer, trágicos, se lembrarmos a ópera de Bizet e o que nos foi contado acerca da enigmática Maria de Magdala.


O pai era um judeu alemão, Wilhelm Kahl, que “latinizou” seu nome para Guillermo Kahlo quando chegou ao México. Já era viúvo quando se casou com a católica fervorosa Matilde Calderón. Frida é a terceira filha deles e, em seguida, sua mãe engravidou novamente. Recém-nascida, foi entregue a uma ama-de-leite para ser amamentada. Frida expressa o sentimento profundo de rejeição materna no quadro “Eu a Mamar” (também chamado A Minha Ama e Eu), de 1937. Sua irmã caçula, Cristina, é onze meses mais moça. Mais tarde, estas duas mulheres, a mãe e a irmã, seriam protagonistas de momentos cruciais na vida da pintora.



A efervescência do início do século XX trazia em seu bojo muitas novidades culturais e  lutas sociais, além da revisão de costumes, questionamentos sobre os papéis dos gêneros e dos direitos de cada um deles. Desde jovem, Frida já mostrava seu perfil transgressor e rebelde: na foto familiar, veste-se de homem e fica em pé, numa atitude de clara contestação e desafio à cultura da época.


Aos quinze anos, converte-se em membro de um grupo político que apoiava as idéias socialistas-nacionalistas. Alejandro Arias, seu futuro noivo, era o líder do grupo. Comenta-se mesmo que, antes dos 20 anos, discutia o viés político de Hegel (tendo passado por Marx) e lia Schopenhauer, alternando-o com Spengler. (Bem mais tarde, tudo isto também propiciaria um encontro inusitado com Leon Trotski e sua esposa, quando os recebeu em casa, dando-lhes guarida da perseguição stalinista). As questões sociais e políticas permeariam de forma permanente a sua existência. Tendo o México como berço, um país tão vibrante, passional, multirracial, Frida via espelhado ao redor suas próprias contradições internas, pessoais e familiares.

"O que não me mata, me fotalece"


Frida forjou na própria carne a força visceral que a levou a fazer da dor a mais preciosa arma para continuar a viver. Seu corpo foi o palco para os prazeres mais secretos e a agonia mais lancinante. Talvez, por isto, sua obra expresse tanta passionalidade. Os desafios que sofreu e que ao mudar seu destino forjaram sua personalidade, alteraram toda sua trajetória feminina. Aos seis anos, (1913), Frida foi vítima de poliomielite. Apesar de nove meses exercitando-se regulamente, o resultado foi uma sequela na perna direita, que se tornou bem mais curta e delgada do que a outra, e um pé atrofiado. Na escola, os coleguinhas, ratificando a inata crueldade infantil, apelidaram-na de “Frida, perna de pau”. Desde cedo, sua vaidade começou a receber duros golpes. Mas parece que a alma de Frida tinha marcado um encontro especial com o destino, aos 18 anos. 
Ao voltar da escola, no dia 17 de setembro de 1925, sofreu um trágico acidente a bordo de um ônibus, que resultou em inúmeras fraturas (onze somente na perna direita), um defloramento por uma barra de ferro que lhe atravessa o quadril, uma sucessão de trinta operações e intermináveis períodos de convalescença. Mais tarde escreveria em seu diário: “e a sensação nunca mais me deixou, de que meu corpo carrega, em si, todas as chagas do mundo”.  Fatalidade, destino, circunstâncias fora do nosso controle, escolhas inconscientes, seja como for, seja qual for o nome que nos parecer mais apropriado a estas situações, o fato é que não ficamos incólumes quando somos beijados pela morte. Ninguém volta do mesmo jeito que era depois de uma temporada no Hades. De repente, não mais que de repente, a jovem mulher que tencionava cursar medicina e era noiva se vê confinada a uma cama, a uma série de tratamentos médicos, à solidão das horas e ao abandono amoroso (sim, Alejandro, o noivo, algum tempo após o acidente, anunciou sua mudança para a Europa… bem verdade, também, é que a mãe e a irmã dele nunca aprovaram seu romance com Frida). Neste deserto existencial, forja-se a artista plástica que viria a ser um ícone de seu tempo, posteriormente.


A família, sensibilizada por tamanha desventura, constrói um cavalete especial para que ela pudesse pintar sem se levantar da cama e instala um espelho no dossel, o que lhe valeria muitos auto-retratos ao longo dos anos. “Pinto-me a mim mesma porque estou com freqüência sozinha e porque sou a pessoa a qual melhor conheço”. Ao que tudo indica, e ela mesma percebeu mais tarde, este acidente foi apenas um trailer do que seria a vida de casada ao lado de Diego Rivera. De acordo com suas palavras textuais, “sofri dois grandes acidentes na minha vida: um foi em um ônibus e outro foi Diego”.




A vida amorosa de Frida foi intensa e apaixonada, marcada por infidelidades mútuas e envolvendo, também, casos homossexuais.  Anos mais tarde, Frida também se casou duas vezes (em 1929 e 1940) com o mesmo homem (Diego Rivera), e, oficialmente, a separação durou apenas um ano (1939-1940). O casamento de Frida se dá aos 21 dias do mês de agosto de 1929. Diego tinha 42 anos, media 1,86m e pesava 136kg. Frida tinha 22 anos, media 1,60m e pesava somente 44,5kg. A mãe de Frida não aprovou a união (“é o casamento de um elefante com uma pomba”), dizendo que Diego era demasiado velho e gordo, além de comunista e ateu. O pai viu a possibilidade de mais alguém cuidar da saúde da filha e os amigos ficaram atônitos com a escolha.


O próprio Diego, que prometeu “lealdade” ao invés de “fidelidade”, acabou por se envolver com várias mulheres ao longo do casamento, inclusive com a cunhada mais nova, Cristina (em 1934), o que acabou por provocar o divórcio (em 6 de novembro de 1939).
Nas Cartas apaixonadas de Frida Kahlo, encontramos frases que expressam sua dor por ter de enfrentar esta traição da própria irmã (todos os trechos a seguir são da carta de 18 de outubro de 1934, p. 64 a 67):

"Nunca sofri tanto e não pensei que pudesse suportar tanta dor (…), aqui no México, não tenho ninguém: tinha apenas Diego e as pessoas de minha casa, que encaram esta questão de um modo católico. As conclusões que tiraram me são tão estranhas que não posso contar com eles. Meu pai é uma pessoa magnífica, mas lê Schopenhauer dia e noite e não me ajuda em nada…"

Aos 27 anos, Frida, a exemplo de tantas outras jovens esposas da época, apesar de já ser razoavelmente conhecida e famosa, ainda não tinha consciência do valor da alteridade, projetando toda a sua valia no papel conjugal:
"Não tenho nada porque não o tenho. Nunca achei que ele fosse tudo para mim e que, separada dele, eu fosse um monte de lixo. (…) Mas agora percebo que não tenho nada além de qualquer outra moça, decepcionada por ser abandonada por seu homem. Não valho nada; não sei fazer nada; não consigo estar sozinha."

A desilusão com o marido se intensifica de forma tamanha que não resta a Frida outra alternativa a não ser tirar forças de si mesma para aprender a cuidar de si:
"Perdi meus melhores anos sendo sustentada por um homem, sem fazer nada além do que julgava que o beneficiaria e ajudaria. Nunca pensei em mim mesma e, depois de seis anos, a resposta dele é que a fidelidade é uma virtude burguesa, que só existe para explorar [as pessoas] e para obter lucros econômicos. (…) Sei que fui tão estúpida quanto se pode ser, mas fui sinceramente estúpida. Imagino, ou pelo menos espero, que me recuperarei pouco a pouco. Vou tentar criar vida nova, colocando minha energia em algo que me ajude a superar isto da maneira mais inteligente.




Em 1935, reconciliaram-se parcialmente, fazendo um acordo de morarem juntos, mas mantendo vidas independentes. Era-lhe muito difícil afastar-se deste homem que a fascinava. Em seu diário, encontramos frases como: “tu manos me estremecieron toda” , “dame ilusión, esperanza, ganas de vivir y no me olvides”, “sabes que te quiero mucho y te perdono todo lo que has hecho, te extraño y quiero que regreses conmigo” ou ainda “aqui estoy para perdonarte, aquí estoy para amarte y tu ¿donde estás, Diego, donde estás?”
Diego Rivera era conhecido tanto pelo talento como artista como por ser mulherengo. Em uma entrevista, descreve as mulheres assim:
"Por naturaleza los hombres somos unos salvajes. Lo seguimos siendo hoy en día. La historia demuestra que el primer progreso fue realizado por mujeres. Los hombres preferimos permanecer brutos, peleándonos y cazando. Las mujeres se quedaron en casa y cultivaron las artes. Ellas fundaron la industria. Fueron las primeras en contemplar las estrellas y en desarrollar la poesía y el arte… Muéstrame cualquier invento que no haya tenido su origen en el deseo de servir a las mujeres."

Em 1937, o casal dá asilo político a Leon Trotski e sua esposa, que refugiaram-se no México, fugindo da perseguição estalinista. A convivência estreita acabou por provocar um relacionamento amoroso entre Frida e Trotski, o qual só durou alguns meses. Em 1938, ela vai a Paris a convite de André Breton, para sua primeira exposição individual. Conhece o fotógrafo Nickolas Muray, com o qual também se envolve afetivamente.



Entretanto, a separação foi passageira e, um ano depois, no aniversário de Diego (8 de dezembro), eles voltam a se casar. Curiosamente, este segundo matrimônio foi condicionado por várias exigências de Frida, a saber:

1. sob o aspecto financeiro, ela assumiu plenamente a sua sobrevivência com a venda dos seus quadros;
2. as despesas domésticas seriam divididas igualitariamente entre o casal;
3. não manteriam relações sexuais (!)


A impossibilidade de ser mãe

Como se não bastassem as deformidades físicas e os tormentos afetivos e sexuais que permearam sua existência, havia outra ferida feminina : a maternidade, igualmente, lhe foi negada. Frida tentou várias vezes levar adiante uma gestação. No entanto, as seqüelas do acidente a impossibilitaram de levar a gravidez até o fim. O primeiro aborto foi em 1930, em razão de o feto estar em má posição.


O segundo aborto

Já o segundo aborto foi no dia 4 de julho de 1932. Foi um aborto espontâneo. O médico tinha incentivado que tentasse manter a gestação até o fim. Por isto, como este bebê tinha sido muito desejado por ela, perdê-lo levou-a a uma profunda depressão – ficou 13 dias no hospital após o aborto. Porém, o ano de 1932 ainda lhe trouxe outra perda significativa: no dia 15 de setembro, sua mãe faleceu. O fato de perder a mãe e abortar pela segunda vez acabou gerando uma tela que foi nomeada Meu Nascimento. Nessa pintura a óleo, a artista imagina como teria sido o parto do qual ela havia nascido, ligando a cena ao seu trauma quando sofreu os abortos. A cabeça da mãe de Frida encontra-se coberta por um lençol, em alusão ao fato de que sua genitora falecera no período em que ela pintava esse quadro – uma Frida morta é dada à luz por uma mãe, também sem vida, sobre uma cama que está ficando encharcada de sangue…



A derradeira tentativa, em 1934, também frustrada, fez-lhe desistir, definitivamente, de ser mãe. Neste mesmo ano, Frida sofre uma amputação na ponta dos dedos do pé direito, além de fazer uma cirurgia de apêndice. Diante disto, Frida aciona sua relação com a arte: “Pintar completou minha vida. Perdi três filhos e uma série de outras coisas que teriam preenchido minha vida pavorosa. Minha pintura tomou o lugar de tudo isto. Creio que trabalhar é o melhor.”

O libelo final


A última década da existência de Frida foi-lhe bastante cruel. Em que pese a notoriedade, os prêmios, as exposições, os alunos fiéis, os cuidados de Diego… seu corpo frágil começou a sucumbir diante de repetitivas infecções e tratamentos exaustivos. Em 1942, por ocasião da amputação do seu pé direito, escreveu: “pés para que os quero se tenho asas para voar.” Entretanto, esta atitude altiva foi-se desvanecendo, a precariedade de sua saúde aumenta e, significativamente, ela começa a escrever um diário. Apesar da agonia, das mais de 30 operações a que se submetera ao longo da vida, na tentativa de melhorar suas condições de saúde, ainda mantinha a fé na cura, mesmo que remota. Por anos, espera com angústia, mas espera. Este sonho deu-lhe alento para continuar vivendo e acabou sendo sintetizado num verso de uma canção preferida, que se tornou o seu lema: “Árvore da esperança, mantém-te firme!”.

Este verso, inclusive, foi o título de uma tela de 1946, na qual há duas Fridas. Uma delas está deitada de lado sobre uma maca, nua, com cabelos soltos, mostrando sua coluna machucada, sob o sol escaldante num deserto seco e com o solo cheio de rachaduras. A outra está no mesmo cenário, só que sob a luz lunar. Ostenta um colete de coluna numa das mãos e uma bandeira onde se lêem os versos da canção-título. Aparece sentada na beira da mesma maca, vestida de vermelho.



Em efeito-cascata, ela começa a sofrer uma série de infecções e seqüelas: em 1946, submete-se a uma cirurgia com implante de osso e precisa de altas doses de morfina, em razão das dores; em 1949, aos 42 anos, sofre de gangrena no pé direito; em 1950, ficou hospitalizada durante nove meses, em decorrência dos problemas repetitivos da sua coluna vertebral. Sofreu sete operações durante este período, pois os implantes ósseos infeccionavam; em 1951, passou grande parte do tempo em uma cadeira de rodas tomando analgésicos; em agosto de 1953, sofre a amputação da perna direita devido à gangrena; em junho de 1954, contrai pneumonia; em 2 de julho de 1954, contrariando ordens médicas, participa de uma manifestação pública. É sua última aparição em público.
Depois da amputação da perna, a depressão aumentou.  Em fevereiro de 1954, chegou a escrever no diário que queria matar-se, porém seu amor por Diego a impedia.

Neste auto-retrato, colocou a morte na testa

Mesmo assim, Frida não perdeu o tom dramático e romântico de seu gestos, até nos últimos momentos de vida. No dia 13 de julho de 1954, no meio da noite, chama Diego e dá um presente inusitado ao marido: um anel comemorativo dos 25 anos de casados. Diego protestou dizendo que ainda faltavam duas semanas, mas Frida insistiu na comemoração. Naquela mesma noite, veio a falecer.


As causas do óbito não são claras, já que não foi feita uma autópsia. Sabe-se que tomou uma dose maior de remédios do que aquela prescrita pelos médicos. Suspeita-se de suicídio. As últimas linhas de seu diário são enigmáticas: “Espero alegre la salida y espero no volver jamás.” A pequena pomba finalmente voou em direção ao horizonte infinito; quem sabe, finalmente, tenha voltado para casa…


Frida foi cremada, conforme seu desejo. Diego guardou as cinzas numa urna pré-colombiana, pedindo expressamente que, quando morresse, fosse também cremado e que as cinzas fossem colocadas junto às de Frida. No entanto, por ocasião de sua morte, a mulher atual e as filhas desrespeitaram sua última vontade, expressa inclusive em testamento. Acreditaram que seria melhor para o país se ele fosse enterrado na “Rotonda de hombre famosos”, na cidade do México.

                                      
Agradecimentos a  Lúcia Torres, mestre em Literaturas de Língua Portuguesa pela UFRGS  pela brilhante pesquisa sobre Frida Kahlo.  Mentora e Facilitadora de projetos do Programa Guardiães do Amanhã, que trabalha com o resgate da identidade feminina através do autoconhecimento e de rituais de diversas culturas. O artigo de Lucia Torres, no qual este foi inspirado, já havia sido postado em março de 2009 por Viviane Guimarães, mas com diferente aspecto e objetivos diversos dos meus.

14 abril, 2010

Ensaio sobre Infidelidade (ou apenas «traição»)



A traição é um fenômeno difícil de se mensurar, mas parece que as mulheres estão cada vez mais infiéis e que os homens infiéis começam a sentir-se culpados. A independência feminina promoveu mudanças na mulher em muitos aspectos da sociedade, especialmente no que se refere ao mercado de trabalho. Atualmente os casais são mais cúmplices, construindo e provendo o lar em igual proporção. Ao trair, o homem sente destruir o vínculo de lealdade com alguém que divide tudo com ele. E há ainda a possibilidade de a mulher sair de casa e abandoná-lo se souber do caso - o que era uma atitude improvável alguns anos atrás - e a mudança na relação com os filhos. Parece que ter uma aventura fora de casa significa uma vergonha para o homem. Agora o homem que trai sente que faz algo errado, enquanto antes isso não era colocado em questão.

Tédio do casamento:

As últimas pesquisas revelam que a maioria dos homens é infiel, mas divergem sobre o número de mulheres que traem. O resultado é de que 47% das mulheres e 60% dos homens são infiéis e alguns psiquiatras constatam que 67% dos homens e 23% das mulheres já traíram o parceiro. Mensurar dados sobre infidelidade é tarefa complicada. Não há como verificar se quem responde às pesquisas está mesmo dizendo a verdade, nem há como garantir que a presença do entrevistador não influencia a resposta do entrevistado e, ainda, muitas vezes, o questionário é respondido na frente do parceiro. Estudiosos classificam a infidelidade conjugal em três tipos básicos: a traição como desejo de novidade para vencer o tédio do casamento; a traição como afirmação da feminilidade ou da masculinidade - é o caso dos traidores compulsivos que precisam de nova conquista para descartá-la em seguida; e a síndrome de Madame Bovary (personagem do romance de Flaubert sobre a infidelidade feminina), em que a insatisfação afetiva leva à busca de um amor romântico que não existe. Em todos os casos, homens e mulheres encaram a traição de maneira diferente. Nas pesquisas entre as respostas mais frequentes dos homens estão: por se sentirem atraídos sexualmente e porque as circunstâncias lhes foram favoráveis. Poucas têm a ver com amor ou envolvimento afetivo. No caso das mulheres, os motivos mais citados foram decepção, desamor e raiva do parceiro. Outro dado curioso se refere à incidência das traições. A maioria ocorre nos primeiros quatro anos de casamento. Para os homens, o segundo foco acontece entre os 20 e 24 anos de união. Entre as mulheres, entre o quinto e o nono ano de casamento. Um dos percentuais mais altos de respostas nas pesquisas diz respeito à vontade dos entrevistados de ter um romance fora do casamento: cerca de 60% dos homens e 55% das mulheres. As razões pelas quais ambos evitam o adultério são curiosas. Elas não querem que o marido faça o mesmo. Eles não querem confusão.

Trauma da infidelidade:


Por ser polêmica até a raiz, a infidelidade suscita uma série de mitos infundados. Um deles: o de que a maioria das traições destrói os casamentos. De acordo com as pesquisas, cerca de 30% dos traídos terminaram a relação. O resultado revela que a maioria absoluta de homens e mulheres procura esquecer o que passou. O maior obstáculo é, sem dúvida, conseguir ultrapassar o choque inicial. Outro folclore em torno do adultério é que ter um caso pode reacender o casamento. De fato, o que pode ocorrer é um dos parceiros (o traidor, óbvio) se sentir "reaceso". Dificilmente quem foi traído ficará animado com a notícia. É quase impossível um dos parceiros ser condescendente com a traição. Infidelidade é um dos poucos assuntos sobre o qual a civilização ocidental é intolerante, por envolver mentira, decepção e o rompimento de um pacto muito forte entre o casal. No entanto, é possível superar o trauma e, em muitos casos, até sair do problema com a relação fortalecida. Na traição, o ideal de casamento desmorona. Passa-se a enxergar o marido e ele a mulher como na vida real. Na avaliação dos terapeutas, a melhor forma de tratar o assunto é tentar enxergar exatamente as razões da infidelidade. Não adianta o infiel declarar-se culpado ou tentar convencer o parceiro de que não sabia onde estava com a cabeça. A atitude mais correta é assumir que estava, de fato, em busca de satisfação fora do relacionamento e reconhecer que magoou o cônjuge. O traído, por sua vez, aprenderá alguma coisa se entrar em contacto com sua ferida profunda, com seu sentimento de indignação e se conseguir reavaliar o modo como escolhe suas parcerias amorosas. É muito comum entre pessoas traídas assumir a responsabilidade pelo fracasso da relação. Perguntar-se "onde eu errei?", "por que eu o pressionei tanto?" Na infidelidade, não existem culpados nem vítimas. Mesmo quem foi traído carrega um fardo enorme. A terapia é muito importante para dividir muito bem a responsabilidade de cada um na história. É impossível dizer por que um dos parceiros trai. É outro aspecto a ser desmistificado: o de que o adultério só atinge casais em crise. Não é verdade. Há também casos de infidelidade em relações muito bem sucedidas. É impossível dizer se foi por atração sexual, por vontade de correr riscos ou por paixão. No fundo, não é nem porque o outro é mais bonito ou mais interessante. Mas é que sempre representa uma novidade.


Mitos sobre adultério:

•"Ter um caso pode reacender o casamento." Não é verdade. Se o casamento já anda mal, pode ser o empurrão que falta para acabar de vez. A traição pode até reacender o ânimo de um dos parceiros (o traidor, óbvio), mas pode destruir o do outro.

•"Trair é normal." Não é. Muitas pessoas acreditam que, pelo fato de se estar vivendo mais, é melhor casar várias vezes. Contudo, o mais importante é ter uma relação que garanta felicidade, conforto e proteção. E um caso extraconjugal proporciona exatamente o contrário.

•"Trair é da natureza humana." Há muitos estudos que tentam provar a tese de que mamíferos, ovíparos e até insetos são infiéis por natureza. Mas não existe comprovação científica.


•"Homens traem mais do que as mulheres." É uma das únicas verdades absolutas no que diz respeito à infidelidade. Nos últimos tempos, no entanto, chama a atenção o percentual de mulheres infiéis.

•"Só casamentos em crise estão sujeitos ao adultério." Não. Acontece também em relações muito bem sucedidas. Parece que é quase impossível manter um relacionamento perfeito o tempo todo, os casos costumam ocorrer em momentos piores.


•"Eu tenho culpa por ter sido traído(a)." Claro que não. O parceiro tem outros caminhos para resolver problemas no casamento. Mas é importante prestar atenção em seu comportamento e no da pessoa amada. Em que momento vocês permitiram que o casamento mudasse de rumo?

Dicas para reconstruir a relação:

•Respostas defensivas vão sempre parecer desculpas sem nexo. Seja claro e objetivo.

•Fuja dos questionamentos exaustivos. Simples questões como "onde" "quando" e "quem" podem ser relevantes para aliviar as pressões por repostas mais complexas como "por quê".

•Evite dar detalhes sobre o caso até que o outro comece a digerir melhor a história.

•Corte por inteiro o vínculo com a terceira pessoa. Não adianta só abandonar o sexo. Discussões pessoais, cafés e telefonemas devem ser eliminados. Se o caso é com um colega de trabalho o contacto deve ser estritamente profissional.

•Qualquer encontro, mesmo involuntário com a pessoa em questão, deve ser relatado ao parceiro.

 Recobrar a Confiança


A maioria das pessoas tende a buscar no outro a certeza que muitas vezes não encontra em si mesmo, junto a isso vem o medo em descobrir que o outro não é tão bom, tão perfeito  e nem tão confiável quanto se espera. Quando deposita sua total confiança em uma determinada pessoa, você a coloca em um pedestal e esquece que em alguns momentos na vida todos falham, uns mais outros menos. E falhar é tão amplo e relativo, mas na infidelidade pesa a traição, o erro, o pecado. E o significado de toda essa gravidade pode variar de uma pessoa para outra dentro de nossas relações.

A confiança é o alicerce de qualquer relacionamento e o confiar plenamente ou não, vai depender da historia de vida de cada pessoa, dos valores éticos e morais, da conduta de cada um. A confiança é atitude.

Lealdade ou fidelidade?
Atualmente homens e mulheres que se relacionam tendem a querer e até exigir fidelidade, entretanto ser fiel é um dever moral, uma obrigação, um compromisso, quase um contrato. Mas a lealdade é muito mais que isso, está relacionada ao caráter, a sinceridade, aos vínculos afetivos. Ser fiel é não trair em nome dos valores morais, mas ser leal é não trair por valores emocionais.


Soneto de Fidelidade


De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento


E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


                                          Vinícius de Morais**



Trecho de Mil Perdões de Chico Buarque, cantando aqui com Daniela Mercury -












A Vida Não Está Para Brincadeiras




Há momentos na vida em que sentimos tanto
a falta de alguém que o que mais queremos
é tirar esta pessoa de nossos sonhos e abraçá-la.


Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado.
A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar duram uma eternidade.

"A vida não é de se brincar porque um belo dia se morre." 
  Clarice Lispector

26 março, 2010

A Escolha de Sofia


Para quem não sabe, A Escolha de Sofia é a história de uma mãe judia no campo de concentração nazista de Auschwitz, que é forçada por um soldado alemão a escolher entre o filho e a filha qual seria executado e qual seria poupado. Se ela se recusasse a escolher, os dois seriam mortos. Ela escolhe o menino, que é mais forte e tem mais chances de sobreviver, porém nunca mais tem notícias dele. A questão é tão terrível que o título se converteu em sinônimo de decisão quase impossível de ser tomada.


Trazendo para nossa realidade.
Minha "Escolha de Sofia" foi quando, pela primeira vez na vida, votei nas eleições presidenciais. Eu era bem jovem, mas já era "antenada" em tudo o que acontecia a minha volta. Lula, Collor ou voto nulo? Depois de acompanhar toda a movimentação a favor da democracia, depois de ter lido e relido sobre tudo o que aconteceu no Brasil nos anos da ditadura, e o que esses 20 anos fizeram a geração anterior, não a dos meus pais, mas aquela intermediaria que era jovem quando eu era pré-adolescente, depois de perceber que sobrou prá todos, poder votar e escolher o Presidente era uma conquista impar, mesmo que eu jamais tenha pisado em uma única manifestação das Diretas Já, mesmo que eu nunca tenha saído às ruas segurando a bandeira nacional, ainda assim eu sentia ser uma vitoria minha, dos meus amigos, dos meus pais, de toda uma sociedade empenhada em fazer o melhor para todos. Como eu poderia depois de tudo isso, depois de tanta luta, tanto empenho, do "Braço Forte" de gente do bem, erguido em defesa do futuro do país, em defesa da juventude da qual eu fazia parte, como eu poderia sequer pensar em anular meu voto. Meu primeiro voto. As primeiras eleições diretas para presidente depois de anos de imposição arbitrária. Anular meu voto, nem pensar. Então era Collor ou Lula. Descobri então que eu era anti PT, tive certeza que era. Votei no Collor. Se me arrependo? Nunca, nem por um minuto, apesar de tudo. Nunca votei no PT, por ideologia pura até o PT se tornar governo. Agora continuo a não votar no PT, pois além de manter a ideologia inicial, tenho mais um milhão de motivos que não preciso mencionar. Anulei praticamente todos os meus votos das eleições anteriores, para vereadores, deputados, senadores. Não anulei para Prefeitura nem para Governo Estadual. O resto? Não tem uma só pessoa dessa cambada toda, que esteja lá por meu voto. E eu me sinto muito bem por isso. O candidato a Prefeito em que votei, ganhou as eleições. Mas para prefeitura se vota com outro olhar, é diferente. Para governador é mais complicado, há que se pensar muito bem, por conta das alianças que acabam surgindo depois das eleições. Dessa vez, para a presidência, mais uma vez não é hora de anular voto em hipótese alguma. E dessa vez me sinto mais confortável ao votar no Serra, do que quando votei no Collor, mas ainda é uma Escolha de Sofia. Não vou anular meu voto, nem votar no PT, principalmente na guerrilheira. Eu hem? Que falta de elegância. Uma mulher no poder é sempre uma situação que gosto de ver, mas infelizmente, nesse caso, quero até esquecer que se trata de uma mulher. Todo mundo sabe quem são os "companheiros" de Lula e Cia. Juntos são os quatro cavaleiros do apocalipse. Com tantas redes sociais borbulhando na Internet, porque as pessoas não procuram por cidadãos comuns de outros países da America do Sul . Entrem no Facebook, por exemplo, e procurem por alguém de Caracas, na Venezuela. Peça amizade e diga o porquê, a verdade. Diga que quer saber o que está acontecendo de verdade, por lá. Você não vai querer acreditar nas coisas que vai ler. E certamente não vai querer nada, nem um décimo, parecido por aqui. Tenho fé de que tudo vai ficar bem, mas confesso, às vezes me dá muito medo."
Eis o artigo:

" SERRA OU DILMA? A ESCOLHA DE SOFIA."

                                                                 POR RODRIGO CONSTANTINO*
Agora é praticamente oficial: José Serra e Dilma Rousseff são as duas opções viáveis nas próximas eleições. Em quem votar? Esse é um artigo que eu não gostaria de ter que escrever, mas me sinto na obrigação de fazê-lo.
Os antigos atenienses tinham razão ao dizerem que assumir qualquer lado é melhor do que não assumir nenhum?”
Mas existem momentos tão delicados e extremos, onde o que resta das liberdades individuais está pendurado por um fio, que talvez essa postura idealista e de longo prazo não seja razoável. Será que não valeria a pena ter fechado o nariz e eliminado o Partido dos Trabalhadores Nacional-Socialista em 1933 na Alemanha, antes que Hitler pudesse chegar ao poder? Será que o fim de eliminar Hugo Chávez justificaria o meio deplorável de eleger um candidato horrível, mas menos louco e autoritário? São questões filosóficas complexas. Confesso ficar angustiado quando penso nisso.
Voltando à realidade brasileira, temos um verdadeiro monopólio da esquerda na política nacional. PT e PSDB cada vez mais se parecem.. Mas existem algumas diferenças importantes também. O PT tem mais ranço ideológico, mais sede pelo poder absoluto, mais disposição para adotar quaisquer meios – os mais abjetos – para tal meta. O PSDB parece ter mais limites éticos quanto a isso O PT associou-se aos mais nefastos ditadores, defende abertamente grupos terroristas, carrega em seu âmago o DNA socialista. O PSDB não chega a tanto.
Além disso, há um fator relevante de curto prazo: o governo Lula aparelhou a máquina estatal toda, desde os três poderes, passando pelo Itamaraty, STF, Polícia Federal, as ONGs, as estatais, as agências reguladoras, tudo! O projeto de poder do PT é aquele seguido por Chávez na Venezuela, Evo Morales na Bolívia, Rafael Correa no Equador, enfim, todos os comparsas do Foro de São Paulo . Se o avanço rumo ao socialismo não foi maior no Brasil, isso se deve aos freios institucionais, mais sólidos aqui, e não ao desejo do próprio governo. A simbiose entre Estado e governo na gestão Lula foi enorme. O estrago será duradouro. Mas quanto antes for abortado, melhor será: haverá menos sofrimento no processo de ajuste.
Justamente por isso acredito que os liberais devem olhar para este aspecto fundamental, e ignorar um pouco as semelhanças entre Serra e Dilma.. Uma continuação da gestão petista através de Dilma é um tiro certo rumo ao pior. Dilma é tão autoritária ou mais que Serra, com o agravante de ter sido uma terrorista na juventude comunista, lutando não contra a ditadura, mas sim por outra ainda pior, aquela existente em Cuba ainda hoje. Ela nunca se arrependeu de seu passado vergonhoso; pelo contrário, sente orgulho. Seu grupo Colina planejou diversos assaltos. Como anular o voto sabendo que esta senhora poderá ser nossa próxima presidente?! Como virar a cara sabendo que isso pode significar passos mais acelerados em direção ao socialismo “bolivariano”?
Entendo que para os defensores da liberdade individual, escolher entre Dilma e Serra é como uma escolha de Sofia. Anular o voto, desta vez, pode significar o triunfo definitivo do mal. Em vez de soco na cara ou no estômago, podemos acabar com um tiro na nuca.
Dito isso, assumo que votarei em Serra, Meu voto é anti-PT acima de qualquer coisa. Meu voto é contra o Lula, contra o Chávez, que já declarou abertamente apoio a Dilma. Meu voto não é a favor de Serra. E, no dia seguinte da eleição, já serei um crítico tão duro ao governo Serra como sou hoje ao governo Lula. Mas, antes é preciso retirar a corja que está no poder. Antes é preciso desarmar a quadrilha que tomou conta de Brasília. Só o desaparelhamento de petistas do Estado já seria um ganho para a liberdade, ainda que momentâneo.
Respeito meus colegas liberais que discordam de mim e pretendem anular o voto. Mas espero ter sido convicente de que o momento pede um pacto temporário com a barbárie, como única chance de salvar o que resta da civilização - o que não é muito.

*Rodrigo Constantino é escritor e tem 5 livros publicados.  Escreve a coluna "Eu e Investimentos" do jornal Valor Econômico e também é colunista do jornal O Globo.