23 junho, 2010

Calou-se José Saramago


  
   Poema à Boca Fechada
  
   Não direi:
   Que o silêncio me sufoca e amordaça.
   Calado estou, calado ficarei,
   Pois que a língua que falo é de outra raça.
  
   Palavras consumidas se acumulam,
   Se represam, cisterna de águas mortas,
   Ácidas mágoas em limos transformadas,
   Vaza de fundo em que há raízes tortas.
  
   Não direi:
   Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
   Palavras que não digam quanto sei
   Neste retiro em que me não conhecem.
  
   Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
   Nem só animais bóiam, mortos, medos,
   Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
   No negro poço de onde sobem dedos.
  
   Só direi,  
   Crispadamente recolhido e mudo,
   Que quem se cala quando me calei
   Não poderá morrer sem dizer tudo.




19 junho, 2010

Porque se desencontram nossos caminhos?



 Ó Amor porque não vens? Porque tarda tua hora? Porque se desencontram nossos caminhos?

De tanto te amar me tornei prolixo, de tanto te esperar me tornei escravo, e de tanto sofrer me tornei poeta. Sento ao horizonte no sol poente, imaginando tua chegada. Porque te deténs no longe, porque te ausentas no tempo, porque escolhestes o futuro para tua morada e o desconhecido para teu descanso. Deixaste teu amado a tua espera, deixaste teu amante sofrer tua ausência. Mas o que liga meu coração ao teu é porque sei, que nesta terra do sol anseias tu a mim, os teus olhos o meu, tuas mãos as minhas, teu abraço meus braços.

Queria ter asas para voar até o lugar onde estás, queria ter força para caminhar léguas, queria ter a coragem para escalar os montes, desvendar os horizontes, e em cada árvore escrever teu nome, em cada pedra desenhar teu rosto, em cada fruto o sabor do teu beijo, em cada sombra o acolher dos teus abraços. Nas estrelas veria teu brilho, no sol o teu calor, na lua a tua formosura e no mar a calma de quando estou recostado em teu colo.


Esses meus olhos que nas estrada andam perdidos, esse meu coração que ao pouco anda recolhido, essas mãos que anda por muito carentes, do suor de quando meus olhos te vêem e aceleram meu coração fazendo destilar as mãos, os efeitos de tua presença. E quando por fim amor eu me cansar de amar, amarei mais ainda, porque o mesmo amor que leva todas as minhas forças e me humilha é o que me faz forte e me exalta.


(Deivyd, de O Romântico Rebelde)


"Quem me dera também, amor, que fosse esta a hora de todas a mais doce em que eu unisse as minhas mãos às tuas!"


Florbela Espanca - Trocando olhares - 29/07/1916








Universos Paralelos




Nós, aqui desse mundinho virtual, que somos muitos, mas nem tanto, somos conhecedores já faz tempo de situações como essas relatadas no filme em anexo. Até quando vamos ficar trocando essas mensagens entre nós mesmos? Em qual momento vamos passar para frente essas histórias, revelando a quem infelizmente não sabe ou não acredita, ou sabe Deus o que pensa?
Dê uma olhada em volta. Olhe pela janela. Aí, onde está agora não há ninguém a quem possa "mostrar" a verdadeira situação?
Você tem funcionários em casa, ainda que ocasionalmente? E nos edifícios, certamente conhece os porteiros, o jardineiro, os seguranças, os manobristas, o pessoal da manutenção. A caixa do supermercado, o entregador, seu jornaleiro, o frentista do posto em que abastece, o mecânico que cuida do seu carro, sua manicure, a recepcionista do consultório e mais uma centena de pessoas que circulam no seu cotidiano, no dia-a-dia. Não é possível que você não troque pelo menos meia dúzia de palavras com essas pessoas. Será que todas elas tem acesso a Internet? Podem comprar jornais ou leitura especializada? Frequentam escolas? Ou será que toda a informação que possuem vem dos programas jornalísticos da TVs abertas entre 18h00 e 20h00? Como é que essa gente toda vai saber a verdade?
É claro que ninguém vai sair por aí fazendo comício. Nem distribuindo panfletos. A não ser que queiram, sei lá ... mas peço que por gentileza não subestimem a minha inteligência que, com relação a capacidade, certamente é muito semelhantes a de vocês. Estou convencida de que sabem exatamente sobre o que estou falando.
Claro que quero continuar sendo informada e informar a todos nós sobre tudo o que acontece, mas de que adianta ficarmos aqui, entre nós mesmos, chovendo no molhado. Parece uma "Missão Impossível"? Parece mesmo. Acho que, inclusive é, de fato. Mas não adianta concertar o telhado depois que começar a temporada de chuva.
Bem, estamos aqui, apenas "conversando", e olha que não tenho tido muito tempo prá isso. Mas para pensar, incrível, sempre tenho tempo.
Pois é pensando no futuro politico e social do meu país que esses pensamentos me ocorrem e me senti á vontade para dividir com vocês.
O futuro a Deus pertence e o tempo d'Ele é perfeito. Mas de uma coisa vocês podem estar certos, do meu jeitinho, à minha maneira vou fazendo a minha parte. E não vou desistir, nem me desesperar. Vou trabalhar.
O oceano é feito de pequenas gotas d'água


Abraços a todos e um excelente final de semana.

07 junho, 2010

O Beijo


“A arte é a contemplação: é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que ela também tem uma alma. É a missão mais sublime do homem, pois é o exercício do pensamento que busca compreender o universo, e fazer com que os outros o compreendam.”






Auguste Rodin